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Ultraecletismo nas grandes cidades: A dificuldade em absorver o Novo [parte 2]


         A Arquitetura Moderna no Brasil deu certo porque resolveu aquilo que se propôs a resolver? Ou a Arquitetura Moderna deu certo porque um intenso amalgama entre governo, “país do futuro”, futebol, progresso e Arquitetura “deu certo”?
         De maneira geral, pode-se dizer, que a questão da Arquitetura no Século XIX, foi a questão do crescimento e amadurecimento da indústria e economia. No Século XX foi a questão social (vide a Revolução Russa e todas as vanguardas surgidas). No Século XXI, é o meio ambiente, a tão polêmica e não compreendida Sustentabilidade.
         O Brasil sequer solucionou qualquer uma das três grandes questões.
         A Arquitetura Contemporânea tem o papel de resolver as três questões juntas. Não há tempo para resolver uma de cada vez.


         O que se produz arquitetônicamente e urbanisticamente em nossas grandes Cidades, falando genéricamente, não soluciona NENHUMA das três questões. O Ultraecletismo* não muda em NADA o quadro dos centros urbanos. A violência é cada vez maior, o abismo econômico torna-se imensurável. A Cidade desenvolve-se apenas em determinadas regiões focadas pelo poder público, enquanto áreas inteiras sofrem pela falta de SANEAMENTO BÁSICO!
         Por que, ainda assim, os habitantes da Cidade abraçam essa Arquitetura Ultraeclética?

         O fenômeno, porém, não ocorre somente em nosso país. A pista para a solução dessa pergunta está na Europa, continente marcado por tantas diferenças culturais, que quase resolveu (ao menos melhor que o Brasil) as três questões dos três séculos em alguns de seus países.
         Segue um trecho de uma entrevista de Rem Koolhaas e Reinier de Graaf, sócios do Office for Metropolitan Architecture, de 30 de Outubro de 2008 à Radical Philosophy (tradução dos autores):
Radical Philosophy: Talvez você possa dizer algo mais sobre essa idéia de modernização? Eu já li antes sobre você fazendo uma sugestão de que a representação cultural dominante na Europa tem sido de caráter essencialmente “anti-moderna”. E, de fato, uma das coisas que você parece ter interesse mais específico é sobre a idéia de a Europa se tornar, em efeito, um potencial novo espaço de modernidade ou motor de modernização, como você mesmo a nomeia.

De Graaf: O interessante sobre a Europa, na verdade, é que ela tem que confrontar a modernidade com o peso total da história em suas costas. Então, a Europa não pode ser um ato radical de modernidade no sentido de começar do zero, de uma tabula rasa, de esquecer tudo. O desafio da modernidade é maior no caso da Europa, simplesmente por que o continente trás tanta história.

Koolhaas: A tabula rasa não é uma opção, mesmo que você queira. Então você tem toda essa história em suas costas, e mesmo assim você tem que modernizar.

         Interessante pensarmos que essa história a que Koolhaas e de Graaf se referem, manifesta-se fortemente na Arquitetura, sendo que cada período da história européia é marcada por uma Arquitetura diferente (e é claro que não poderia ser de outra maneira, já que a Arquitetura é o reflexo de sua época).

A Arquitetura de nossas cidades é o reflexo de nossa época?


         Nossos livros de história nos induzem a pensar que a história da humanidade é européia. A partir do momento que começa a se falar do domínio de Roma, os livros tratam quase que exclusivamente da história do velho continente. Algo sequer é dito sobre como era a cultura do território que hoje conhecemos como Brasil. Quem disse que a cultura indígena nas Américas é menos importante que a cultura do Império Romano Bizantino?
         O Ultraecletismo usa de arquiteturas históricas européias para montar seu Frankenstein.
         Por que a população sente-se a feliz morando num “Moderno Prometeu” arquitetônico?

         Allan de Botton, em seu programa de televisão Arquitetura da Felicidade (inspirado no livro de mesmo nome), joga uma luz na questão.


         A sociedade contemporânea caiu na ilusão. Ao invés de nos esforçarmos para mudar o quadro sócio-político de nossas grandes cidades, produzir um Urbanismo que não segregue o espaço, projetar edifícios e infraestruturas capazes de melhorar a vida da população que realmente necessita de condições mínimas de sobrevivência (comer, morar, existir para o restante da sociedade), nós colocamos uma venda em nossos olhos. Preferimos não ver pessoas nos semáforos pedindo dinheiro. Favelas e construção ilegal sequer aparecem nos mapas dos municípios.
         Como Maria Antonieta, nos sentimos mal com a situação do mundo, e preferimos nos esconder em nossos condomínios fechados, em moradas que simbolizam arquitetônicamente a riqueza e luxo de tempos em que a vida era mais simples: tempos em que não existia movimento nas pirâmides sociais.


"A arquitetura atual não segue a função nem estilos históricos. É monetarista, interessada em status"
-Joaquim Guedes-




*ROZESTRATEN, Artur Simões. Ultraecletismo?. Arquitextos, São Paulo, 10.114, Vitruvius, nov 2009 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.114/16.

         Fotos dos autores.
         Exceto imagem título: montagem utilizando imagens randômicas de pesquisa no Google. Inspiração para esquema daqui.

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