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Villa Tugendhat [Mies van der Rohe]


         82 anos. A idade dessa casa, projetada em 1930 por Mies van der Rohe para a família Tugendhat, nos sugere o impacto que a leveza e transparência de sua volumetria teve na ainda anacrônica vizinhança da cidade de Brno, República Tcheca.


         Em 1928, o casal Fritz e Grete Tugendhat fizeram a encomenda dessa casa a Mies, que na época projetava com a equipe de seu escritório o Pavilhão de Barcelona. Os dois conheciam o trabalho do arquiteto alemão, e queriam uma casa com arquitetura de vanguarda.
         Ricos industriais, a família deu liberdade a Mies tanto no que dizia respeito à arquitetura, quanto nos interiores e mobiliários. Muitas das experiências que viriam a se concretizar em seu emblemático Pavilhão na Catalunha, se deram primeiro aqui, numa total troca de informações, num período de muito amadurecimento de sua metodologia projetual.


         Vista da rua, a residência apresenta uma aparência de extrema simplicidade, onde é possível notar a garagem à direita e um outro volume à esquerda. Das demais vistas, porém, a casa revela toda sua forma. Implantada num grande terreno em declive, a entrada no nível da rua mostra-se nada mais do que um terraço de uma residência de dois pavimentos.


         Na época, ao contrário do Pavilhão de Barcelona (que foi um sucesso de crítica), a casa foi atacada como sendo portadora de um "falso minimalismo". Apesar de seguir todos os preceitos da arquitetura moderna, no que diz respeito à sua forma, do ponto de vista social ela era radicalmente desrespeitosa, afirmavam os críticos.
         A residência desses ricos industriais tchécos era cara. Caríssima.


         A causa moderna impossibilitava o reconhecimento de um edifício/palacete tão dispendioso. Para se ter uma idéia, a Villa Savoye de Corbusier, um projeto contemporâneo a esse, havia custado cerca de 10 vezes menos que essa Villa Tugendhat, e já era considerada cara. Os revestimentos e acabamentos, puras placas de Onix e ébano macassar teriam custado, apenas eles mesmos, o equivalente à construção de uma casa simples. O mobiliário, todo projetado exclusivamente para o projeto por Mies com a ajuda da designer Lilly Reich, esbanjava refinamento.



         É impossível porém não reconhecer a genialidade com que Mies desenvolve os espaços escavando o terreno e volumes da casa. A estrutura, já apresentando os famosos pilares em cruz, é esbelta, e possibilita uma liberdade programática inédita à época. A própria maneira com que a casa se apresenta, de cima para baixo, primeiro opaca para depois revelar a natureza e o entorno, é no mínimo impactante.





         A sensibilidade com que o arquiteto enquadra a paisagem, primeiro externamente e depois internamente, é uma tentativa de aproveitar a maravilhosa vista do terreno acidentado com o grande jardim. Mies sempre se preocupou com a relação da paisagem (seja natural ou projetada) com a arquitetura. Aqui, como em seu primeiro projeto de destaque, a Casa Riehl, isso fica evidente.
         A idéia "view finder" do projeto só foi possível graças aos grandes panos de vidro de piso a teto, que cortam a fachada voltada ao jardim. Se a casa é discreta e opaca da rua, nos fundos é escandalosamente transparente.



         A sala de jantar é uma varanda, ou a varanda é uma sala de jantar? Todos os espaços sociais estão distribuídos de maneira a aproveitar a transparência assegurada pelos pilares metálicos, enquanto os quartos e áreas mais íntimas ficam resguardados e recuados da fachada, separados pelo terraço varanda com o curioso varal.


         Durante os últimos anos, a casa passou por uma grande restauração, onde layout e detalhes construtivos foram configurados de volta aos originais. Durante seus 82 anos, a casa já foi propriedade dos Tugendhat, base nazista, escola de dança, museu...programas que desconfiguraram e contribuíram para enriquecer o legado do edifício, tombado como patrimônio da humanidade em 2001.



Nas imagens acima, trabalhos de restauração na Villa Tugendhat.
A casa reabriu essa semana para visitação.


Vimos aqui.

Mais imagens e informações:

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